O anúncio de Mark Zuckerberg, em outubro de 2021, de que o Facebook se tonaria um conglomerado denominado “meta”, despertou milhares de dúvidas e questionamento sobre as possibilidades da saúde e na odontologia neste novo ecossistema.
Mas,o que é metaverso? É uma interação da parte da Internet da realidade virtual compartilhada, geralmente como uma forma de mídia social. O metaverso em um sentido mais amplo pode não se referir apenas aos mundos virtuais operados por empresas de mídia social, mas a todo o espectro da realidade aumentada.
Metaverso = Realidade Virtual + Realidade Aumentada + 3D + Inteligência Artificial, ou seja, o futuro hoje. Tecnicamente é uma combinação de (1) ‘realidade extendida imersiva’, com (2) RPG multiplayer online(gênero de game onde os jogadores assumem o papel de personagens imaginários) e (3) várias outras tecnologias inteligentes embaladas e propelidas pela web de alta performance. As pessoas poderão fazer nos ‘ambientes-metaversos’ aquilo que já fazem na vida físico-presencial, mas o farão em modo virtual. Poderão socializar, participar de eventos, fazer compras, trabalhar, estudar, etc. Naturalmente, poderão também utilizar essa combinação tecnológica para cuidar mais e melhor de sua saúde.
Segundo Guilherme S. Hummel, Scientific Coordinator Hospitalar Hub e Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute), o neologismo ‘metaverse’ emergiu nos últimos meses não porque o Facebook precisa de um novo gadget para chamar de seu, mas por três variáveis dos nossos tempos: (1) a chegada do 5G; (2) os novos hábitos de uma sociedade que precisou viver meses em clausura (Covid-19), se obrigando a trabalhar (home-office) e estudar à distância; e pela (3) explosão descomunal das tecnologias de gamificação, que saíram dos milhões de usuários para bilhões na última década. Depois de anos de promessas, Realidade Virtual (RA), Realidade Aumentada (RA) e Realidade Estendida (XR) passam a ter uma “segunda chance”, visto que até agora só alcançaram espaço expressivo no entretenimento e não num mundo real abarrotado de demandas na educação, saúde e ciência política (sim, a tecnologia digital ainda precisa reinventar os sistemas de participação popular antes que a democracia vire poeira). Assim, fora os games a ‘realidade comercial’ mostra que a realidade virtual ainda não decolou.
Porém no universo da Saúde é que as novas aplicações podem avançar com mais agilidade. Guilherme chama de realidade médica estendida (MXR)’, um termo para contextualizar as aplicações de metaverso na área médica, aprimoram o nível de informação que o médico e o paciente dispõem. Ambientes virtuais imersivos e avatares podem acelerar a recuperação, reabilitação, fisioterapia, procedimentos cirúrgicos, treinamento, diagnóstico preditivo, medicina personalizada e inúmeros outros campos clínicos. A FDA (Food and Drug Administration), por exemplo, já aprovou quase uma dúzia de tecnologias MXR para uso clínico.
Um exemplo é o PAI (Photoacoustic Imaging), uma tecnologia híbrida que combina lasercom equipamentos de ultrassonografia, permitindo o “mapeamento profundo e não invasivo dos vasos sanguíneos e da saturação do oxigênio no sangue”. PAI tem amplas aplicações potenciais na oncologia (especialmente na detecção de câncer de mama) e nas orientações cirúrgicas.
Outra peça-chave no metaverso médico são os smartglasses. Pesados, grandes, confusos e de baixa resolutividade, os óculos-rv foram inovadores há uma década, mas depois se tornaram devices de pouca atratividade para os usuários, principalmente se eles precisassem utilizá-los por várias horas. Nos últimos quatro anos tornaram-se mais leves, inteligentes e atrativos, como, por exemplo, o HoloLens 2 (Microsoft). Passaram a ser mais compatíveis com as exigências médicas, ainda que falte muito para serem utilities, como um óculos-comum. Em termos de funcionalidades, essas ferramentas já podem se conectar remotamente a especialistas, sobrepor em holografia dados personalizados do paciente, consultar imagens 3D em videotecas e combinar Estudos de Casos clínicos com alta resolução e fácil rastreamento ocular.
Se já se imaginou tratamentos onde o profissional está no consultório e o paciente em casa? entenda que isso em breve será absolutamente possível. Poderíamos imaginar escaneamentos bucais à distancia? provas de mockups? aprovação de tratamentos?
Bom se você imaginou, creia que irá acontecer.
Como certa vez explicou Eric Schmidt (ex-CEO Google): “a Internet é a primeira coisa que a humanidade construiu e que ela não entende; é o maior experimento de anarquia que já tivemos, com todos os dias improvisando avanços”.